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Rumo a um futuro descarbonizado na Europa rural com GPL

01 Mar. 2022
Rumo a um futuro descarbonizado na Europa rural com GPL
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A mais recente Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), que reuniu dirigentes de todos os países do mundo, demonstrou que os desafios para se atingirem as metas de descarbonização ou neutralidade climática até 2050, convocam todos os segmentos da sociedade para intensificar as medidas que permitam a redução de gases com efeito de estufa (GEE). Neste âmbito, a transição energética constitui o...
A mais recente Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), que reuniu dirigentes de todos os países do mundo, demonstrou que os desafios para se atingirem as metas de descarbonização ou neutralidade climática até 2050, convocam todos os segmentos da sociedade para intensificar as medidas que permitam a redução de gases com efeito de estufa (GEE).

Neste âmbito, a transição energética constitui o tema central e representa o mais complexo processo a desenvolver, pois colide com a excessiva dependência que as sociedades e a economia global têm dos combustíveis fósseis, os principais visados naquele desígnio. A procura de soluções e respostas eficazes e exequíveis é, assim, um imperativo que a todos diz respeito e exige uma adequada combinação de determinação, foco e pragmatismo, e a UE quer liderar este processo com o European Green Deal.

Integrada nesse objetivo, a indústria europeia de GPL responde com soluções setoriais de curto prazo, que visam dar resposta às metas intermédias adotadas para 2030, de carbono quase zero, que se destinam às famílias e empresas das áreas rurais da Europa (setor primário). Nestas regiões, reside e trabalha cerca de 30% da população europeia (94,5% vive em habitações unifamiliares), sendo também a que aufere os rendimentos médios mais baixos, aquela que apresenta as taxas de pobreza energética mais elevadas e para quem o aquecimento das casas fica mais caro, assim como a sua transformação direta para o uso de energias renováveis, pelo que se justifica esta atenção e contributo, para evitar que possam ficar para trás no esforço de descarbonização (e despoluição). Saliente-se ainda a sua dependência de combustíveis sólidos ou líquidos mais poluentes: p.ex., na Polónia e na Bélgica, 75% do aquecimento fora da rede é obtido através de óleo de aquecimento e até de carvão. Na Alemanha e na França, a percentagem de famílias que dependem desses combustíveis é de 68% e 42%, respetivamente.

A Indústria do GPL, que há muito conhece as características específicas deste setor e responde ás necessidades destas populações, encontra-se atualmente na linha da frente quanto à oferta fundamentada e realista de soluções integradas de energia renovável e caldeiras de alto rendimento (que permitem melhorar a eficiência energética) com a vantagem de a utilização do GPL (Gás de Petróleo Liquefeito: butano, propano ou misturas de ambos) e do BioGPL (combustível gasoso feito de matérias-primas orgânicas e quimicamente idêntico ao GLP convencional) permitir iniciar de imediato o caminho da transição energética.

Nestas regiões, como já se referiu, existe uma grande dispersão de zonas habitadas, baixa densidade demográfica, recurso extensivo e intensivo a combustíveis mais poluentes como o carvão, o gasóleo ou o óleo de aquecimento, seja para assegurar o aquecimento doméstico, que utilizam de forma mais permanente em oposição ao utilizador urbano, seja para a mecanização e uso térmico na agricultura (p.ex., aquecimento de estufas). Em todas as aplicações identificadas, o GPL e o BioGPL podem assegurar a sua substituição, com uma relação custo-benefício fortemente apelativa e uma contribuição substantiva também para a melhoria dos índices de qualidade do ar ambiente, ao reduzir comparativamente a emissão de outros componentes poluentes, como as PM e os óxidos de azoto. No caso do BioGPL é ainda mais significativo que a sua crescente utilização possa contribuir para reduzir em cerca de 80% as emissões de CO2.

Outras características reforçam as vantagens desta opção que a indústria do GPL oferece:

•  Possuir uma extensa rede de fornecimento, testada e comprovada, até às áreas mais remotas, com uma operação logística flexível e que facilmente se adapta ao armazenamento e à distribuição destes novos combustíveis e à sua especificidade demográfica;

•  Permitir, sem grandes custos de infraestrutura e, em muitos casos, com custos limitados para os cidadãos, operar essa transição: assim, no curto prazo, p.ex., o custo da mudança de óleo de aquecimento ou de carvão, para GPL, pode ser subsidiado e a longo prazo, a mudança para combustível renovável não ficará condicionada pela necessidade de nenhuma infraestrutura adicional, uma vez que a infraestrutura existente, como tanques de armazenamento, carros tanques, etc, pode ser adaptada a um custo mínimo (apenas as caldeiras precisariam ser adaptadas);

•  Estar a investir ativamente no aumento da produção de BioGPL e outros combustíveis renováveis;

•  Posicionar-se como o parceiro ideal para as energias renováveis, já que permite complementar ou apoiar a implementação e a sua utilização segura (p.ex., a água pode ser aquecida por painéis solares térmicos e a caldeira a GPL constituirá o recurso de energia em caso de necessidade, face à intermitência que as caracteriza); além disso, facilita o recurso a outras soluções inovadoras como as que incluem as unidades de microgeração (micro CHP), bombas de calor híbridas e a gás, e motores de células de combustível.

Em síntese, existem soluções para o curto prazo, isto é, já para o presente, e que constituem uma abordagem justa que não quer deixar ninguém para trás, o que se traduz na atenção especial dedicada às populações rurais. Teríamos assim um processo que conduz à descarbonização sem necessidade de novas infraestruturas e o custo que isso implicaria e uma transição apoiada na evolução e não numa revolução que dependesse de alterações bruscas ou radicais. São 7 os seus princípios orientadores: 

1. Soluções à medida (customizadas), que garantam a adequada compatibilização com as suas especificidades.
2. Não ao desperdício de energia, procurando requalificar os edifícios mais antigos e ineficientes.
3. Fácil de obter, isto é, mudar para soluções ágeis, com combustíveis gasosos combinados com caldeiras modernas e geração de energia renovável.
4. Mais vale um pássaro na mão…: Devido às suas especificidades únicas, a solução perfeita de zero carbono pode não ser possível hoje. No entanto, soluções simples e já provadas podem reduzir as emissões de uma casa rural em 85%. Podemos esperar por uma solução perfeita que pode levar décadas para ser desenvolvida ou podemos desenvolver soluções que estão disponíveis hoje.
5. Uma etapa de cada vez, isto é, deve assentar em soluções robustas que funcionem hoje e sirvam de base para o futuro (p.ex., isolamento melhorado, vidros energeticamente eficientes, mudança do uso de carvão ou do óleo de aquecimento para GLP, uma caldeira moderna e eficiente combinada com energia renovável ou uma bomba de calor). As reformas geralmente são feitas gradualmente, dependendo das finanças disponíveis. Devemos promover soluções que ofereçam reduções substanciais agora e sirvam como um trampolim para novas tecnologias.
6. Uma transição justa, que não deixe ninguém para trás.
7. Soluções locais ou descentralizadas, ou seja, sistemas autónomos e menos dependentes de modelos concentracionários de produção de energia.

Pode assim perceber-se o potencial do GLP e do BioGLP, como combustíveis gasosos de queima limpa, versáteis e eficientes em termos de recursos (incluindo a economia circular), perfeitamente posicionados para ajudar a alcançar as ambiciosas metas energéticas e climáticas da Europa, especialmente nas áreas rurais e no transporte rodoviário.

Para permitir que o GPL e o BioGPL cumpram seu potencial de contribuição para o Pacto Ecológico Europeu, a Liquid Gas Europe convida os decisores políticos a considerar as seguintes recomendações:

•  Criar diferenciação de preços - para que o GLP desempenhe seu papel na transição energética conviria distinguir entre combustíveis fósseis de baixo carbono e alto carbono;
•  Apoiar combustíveis alternativos com um histórico de sucesso;
•  Dar aos Estados-Membros a flexibilidade necessária para adaptar a tributação da energia às necessidades das famílias e das empresas;
•  Assegurar a consistência com a Diretiva das Energias Renováveis;
•  Garantir condições equitativas para os combustíveis de aquecimento.
Esta é assim a contribuição da Indústria Europeia de GPL e um testemunho do seu empenho em garantir que o mercado europeu de GPL se torne 100% renovável até 2050. Para chegar lá, serão necessárias várias intervenções políticas críticas e ações da indústria, como também é sugerido.
Autor: José Alberto Oliveira, Director Técnico da APETRO
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