Home / Mercado / Impacto dos elétricos nos componentes
PUB

Impacto dos elétricos nos componentes

Impacto dos elétricos na indústria de componentes será limitado. A transição dos veículos convencionais para os elétricos será mais lenta do que preveem os analistas.
23 Jun. 2017
Impacto dos elétricos nos componentes
PUB
O eclodir do chamado Diesel Gate em 2015 fez aumentar a pressão contra o uso de veículos com motor de combustão interna, a favor de veículos elétricos, energeticamente mais eficientes e amigos do ambiente. Fala-se duma revolução na indústria automóvel e anunciam-se tendências e processos disruptivos que a curto prazo poderiam levar ao desaparecimento de grande parte da atual indústria automóvel, tanto a nível de construtores, como de...
O eclodir do chamado Diesel Gate em 2015 fez aumentar a pressão contra o uso de veículos com motor de combustão interna, a favor de veículos elétricos, energeticamente mais eficientes e amigos do ambiente.

Fala-se duma revolução na indústria automóvel e anunciam-se tendências e processos disruptivos que a curto prazo poderiam levar ao desaparecimento de grande parte da atual indústria automóvel, tanto a nível de construtores, como de fabricantes de componentes.

Veículos convencionais valem 96% do mercado europeu

Na União Europeia em 2016 venderam-se 14,6 milhões de veículos ligeiros de passageiros, um aumento de 6,8 % face ao ano anterior. Os veículos tradicionais com motores de combustão interna utilizando produtos petrolíferos representam ainda 96% do mercado, sendo que os restantes 4% se referem a veículos híbridos ou movidos a combustíveis alternativos.

As vendas de veículos tradicionais aumentaram 6,9 %, para 14 milhões, enquanto as vendas de híbridos ou elétricos subiram 4,1%, para as 600 mil unidades.

Em termos de crescimento absoluto anual, foi incomparavelmente maior o crescimento do número de veículos tradicionais do que o crescimento de veículos que incorporam motores elétricos.

Segundo dados da associação internacional dos construtores de automóveis, OICA, em 2014 circulavam em todo o mundo mais de 1,2 mil milhões de veículos, dos quais 382 milhões, ou seja 31%, nas estradas europeias, predominantemente utilizando combustíveis derivados do petróleo.

Motores de combustão estão mais limpos

O transporte rodoviário é apenas responsável por cerca de 13% das emissões de CO2 feitas pelo homem, existindo outros importantes contribuintes, como o fornecimento de energia (30 %), a indústria (19 %), os edifícios (13 %), os outros transportes (12 %), a agricultura (10 %) e o setor de resíduos (3 %). Todas as fontes de emissão de CO2 – e não apenas os automóveis -, deverão ser otimizadas para se conseguir reduzir o problema.

Ciente dessa necessidade, a indústria automóvel tem estado continuamente empenhada na diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, através do desenvolvimento de tecnologias de baixo consumo de combustível e do investimento em motorizações alternativas.

Em 2015 as emissões médias de CO2 dos novos veículos eram 36% mais baixas do que em 1995. As emissões de CO2 por km percorrido passaram dos 186 gramas, em 1995, para menos de 120 gramas.

Em paralelo, a introdução das normas EURO impôs também uma forte diminuição das emissões de óxidos de azoto (NOx) e de partículas (PM): A norma Euro 3 (em vigor até 2005) permitia emissões de gases NOx até 50 g/100 km; a Euro 5 passou esse limite para 18 g/100 km e a norma Euro 6, que entrou em vigor em setembro de 2015, baixou esse limite para 8 g/100 km.

Todos os limites de emissões têm vindo a baixar drasticamente, levando a que os automóveis hoje produzidos sejam incomparavelmente mais limpos do que há poucos anos.

A transição será mais lenta do que os analistas preveem

No curto prazo os veículos automóveis com motor de combustão interna tradicionais ou híbridos manter-se-ão dominantes. Reforçar-se-ão a pressão e os esforços no sentido de reduzir os seus consumos e emissões, o que se conseguirá através do desenvolvimento tecnológico, da introdução de novos materiais e da redução do peso.

A transição para um mercado 100% constituído por viaturas 100 % elétricas será muito mais lento do que a maioria dos analistas preconiza.

A evolução do mercado dos veículos elétricos dependerá significativamente de dois importantes fatores externos, que são o preço do petróleo e o custo da eletricidade, e ainda de outros fatores com influência significativa, como o preço das viaturas elétricas, a sua autonomia, a disponibilidade de infraestruturas públicas e privadas para carregamento das baterias, a aceitação pública para este tipo de mobilidade, a tipologia de veículos a serem colocados no mercado e a sua evolução tecnológica.

Prevê-se que o preço dos combustíveis fósseis continue a crescer no longo prazo e que a pressão social e política a favor de veículos mais ecológicos se agudizará.

Os veículos 100% elétricos ainda não resolveram os problemas da autonomia e da velocidade de carregamento e são ainda demasiado caros, necessitando de apoios financeiros públicos para poderem ser competitivos.

As empresas do sector e as entidades públicas continuarão a investir fundos gigantescos em investigação e desenvolvimento dos veículos elétricos, o que acelerará a resolução dos atuais constrangimentos técnicos e económicos.

Manter-se-ão os apoios públicos à utilização de fontes de energia alternativas e sustentáveis ​​e o reforço das respetivas infraestruturas de distribuição.

As políticas fiscais e urbanas promoverão não só veículos que emitam menos CO2, mas também hábitos de condução e de utilização das viaturas ambientalmente responsáveis, o uso de transporte coletivos com soluções inovadoras e todas as medidas que melhorem os fluxos de trânsito.

A evolução de longo prazo para o veículo tendencialmente autónomo favorece a opção pelos veículos elétricos.

Estudos apontam para utilizadores com garagem ou parqueamento próprios serem mais propensos à aquisição de veículo elétrico. Aquela condição é mais facilmente verificável em cidades de tamanho médio ou pequeno (até 100.000 habitantes).

As maiores poupanças de consumo são realizadas nos veículos elétricos de maior tamanho, que são os de maior quilometragem efetuada anualmente, sendo que estes são hoje os menos disponibilizados em versão elétrica pelos construtores de automóveis.

Quanto aos veículos pesados para transporte de mercadorias, sobretudo de longo curso, a transição para a motorização elétrica coloca ainda enormes dúvidas.

Impacto limitado na indústria de componentes

Os fabricantes de componentes automóveis tradicionais correm o risco de desaparecer? Esta ideia é errónea já que a grande maioria dos componentes utilizados nos carros com combustão interna continuará a ser utilizada nos veículos elétricos - pense-se em assentos, faróis, infotainment, painéis, pedais, portas, pneus, revestimentos interiores, tabliers incluindo airbags, vidros, volantes e tantos outros.

Ma há componentes que não são utilizados nos veículos 100% elétricos, como a bateria tradicional, a caixa de velocidade, componentes de motor, o depósito de combustível, ou o sistema de escape, e que, por isso, sofrerão com a transição para veículo 100 % elétrico. Mas tenha-se presente que todos eles continuarão a ser utilizados nos veículos híbridos e que estes têm hoje um peso muito superior ao dos 100 % elétricos.

Os fabricantes de automóveis e os seus fornecedores estão continuamente a investir em tecnologias inovadoras que ofereçam ao mercado automóveis mais seguros e mais automatizados, tendencialmente autónomos, e soluções mais amigas do ambiente.

O fabrico de componentes automóveis é um dos principais sectores industriais em Portugal, constituído por 220 empresas que dão emprego direto a 46.500 pessoas, com um volume de negócios anual de 9 mil milhões de euros, dos quais 85% são exportados, contribuindo fortemente para a atração de investimento direto estrangeiro e para o desenvolvimento da economia portuguesa.

Em termos de importância na economia nacional, em 2016 representou 5% do PIB, 7% do emprego da indústria transformadora e 14% das exportações nacionais de bens.
PUB  
PUB  
PUB